quarta-feira, 21 de julho de 2010

ECA!

Pergunta difícil: alguma hora alguém vai poder falar mal do estatuto da criança e do adolescente sem ser acusado imediatamente de ter cometido, como diria o Windows, um erro fatal? Ou ao menos, teremos a chance – poderia se dizer democrática – de dar um grito de basta à histeria calçada de boas intenções que se forma ao seu redor? Espero que sim.

Para que vocês fiquem na torcida comigo, vou lembrar algumas coisas: semana passada, ficamos sabendo que na montagem de Despertar da Primavera, clássico da dramaturgia alemã sobre a adolescência, uma atriz não poderá mostrar os seios por ser menor de idade; o novo filme de Rosane Svartmann sobre os embates sexuais da puberdade, o qual provavelmente, independente de sua qualidade artística, ajudaria meninos e meninas a enfrentar com maior leveza tais embates, foi proibido para menores de 14 aos, afinal, obviamente, está cheio de referências a sexo (a vida de qual adolescente de que planeta não tem pornografia, linguagem obscena e violência?); nos museus do Rio, em exposições de Victor Arruda e outros artistas, deparamos com a figura de um guarda armado protegendo as crianças das obras (pode ser o inverso, mas eu me lembro daquele monte de crianças correndo pelos corredores e salas do Museu Picasso e penso que elas estão muito mais protegidas, ao menos da ignorância, do que as nossas).

Enfim, poderia dar inúmeros exemplos até vocês ficarem cansados ou eu num completo mal-humor. Acho que não precisa. A censura é sempre visível, suas intenções claras como água, e há sempre alguém disposto a regular a liberdade dos outros, sob qualquer pretexto. De qualquer modo, incomoda ver nossos garot@s serviram de álibi ao que há de pior na sociedade brasileira.

Incomoda pensar que em sua defesa, os impedem de escutar, ver, falar, pensar. Protegidos pelo estatuto, os falsos moralistas e a hipocrisia disfarçada de bom senso defendem a si mesmos, impedindo que nossas crianças e adolescentes cresçam com a liberdade e até mesmo o risco necessários para que se tornem, como diz o cartaz do colégio cristão aqui em frente, cidadãos dignos e capazes. Impedindo também, e esta é a parte trágica, que tais "menores" aprendam a se defender dos seus abusadores, especialmente daqueles que alegam agir em seu nome.

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